terça-feira, 21 de abril de 2009

O modelo político e a Internet, por Luis Nassif

Coluna Econômica - 21/04/2009 do Blog do Luis Nassif. Vale a pena ler.

As eleições de 2010 já provocam movimentações amplas, que passam despercebidas da maior parte da opinião pública. O processo eleitoral é apenas uma parte do capítulo da grande guerra pelo controle do Estado - como foi descrita pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, referindo-se à Satiagraha.Nas democracias formais, definem-se três poderes - Executivo, Legislativo e Judiciário. Há um quarto poder, a imprensa de opinião, aquela que influencia decisões dos demais poderes.
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Acontece que eleições em todos os níveis dependem de financiamentos. Atrás de bancadas políticas existem, muitas vezes, patrocínios de grupos privados. E o Estado é o ponto central dos negócios de uma economia, seja como agente, formulador ou regulador.
Mas a estrutura de poder vai muito além.
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A rigor, toda democracia representativa segue esse modelo. Na superfície, o formalismo político passa a ideia de participação de todos nas decisões. Nas profundezas, o que ocorre é um jogo de poucos, grupos econômicos, grupos de mídia, partidos políticos, objetivando alcançar o poder. Só que o poder permanente - conforme imaginado por Sérgio Motta, PSDB, ou por José Dirceu, PT - pressupõe o controle da economia, a formação de grupos aliados poderosos, a montagem de alianças regionais, que dêem sustentação aos planos eleitorais dos partidos e dos parlamentares.
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É só conferir o grupo de amigos e aliados do governo George W. Bush quando este ascende ao poder. Passam a se beneficiar da desregulamentação do setor elétrico, da guerra do Iraque, das jogadas em telecomunicações.
A diferença do Brasil é que, a formação da nação americana sempre contou com os grandes reformadores, uma elite de primeira que definiu pontos essenciais para o desenvolvimento do país, acima dos interesses de curto prazo.
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No Brasil, com exceção de alguns poucos períodos, a ideia do projeto de poder sempre se sobrepôs às medidas que poderiam resultar em desenvolvimento e em melhoria geral do país.
É o caso do Plano Real e da sucessão de medidas tomadas por FHC, especialmente na área cambial. FHC montou uma estrutura de poder calcada nos novos gestores de fundos de investimento - Daniel Dantas e outros banqueiros, de maior ou menor seriedade, mas com os mesmos propósitos de controle do Estado.
Como uma desvalorização cambial traria prejuízo a esse sistema, optou-se por empurrar com a barriga, criando uma dívida interna monumental e retardando por anos o crescimento brasileiro.
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Lula faz parte da mesma forma estratégica, embora demonstre mais vontade de fazer que o antecessor. Mas é incapaz de romper com a lógica do Banco Central, para não comprometer seu projeto de poder.
No fundo, é o que explica o pouco empenho por reformas, a anemia do governo FHC, depois da morte de Serjão - o único com impulso transformador -, a lentidão da gestão no governo Lula.
O fato novo é o avanço da Internet, dos bancos de dados digitais e a Operação Satiagraha, tornando esse modelo obsoleto.

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